quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Mazzaropi e Voltaire


A campanha política para a presidência mal começou e a blogosfera exala um otimismo ingênuo e beato em relação à vitória da candidata petista Dilma Rousseff.
Para blogueiros e analistas "se" não houver algum fato novo, alguma profunda decepção com o governo ou com a candidata, se a inércia for mantida, a candidata petista vence.
Alguns afirmam que o "mercado" já aposta na vitória da petista.
Outros, mais temerários, prevêem "uma derrota acachapante" do candidato José Serra ainda no primeiro turno. 
O lúcido quadro do ponto de partida da campanha traçado por Sergio Abranches no seu artigo de 2 de Agosto "A conjuntura e as preferências eleitorais" é o seguinte:

 O quadro demonstra o óbvio, como eu antecipava aqui em texto de 28 de Junho "José Serra e o cavalinho de balanço".
(clique no gráfico para ampliar)

A inércia da candidatura de José Serra no seu ponto máximo e a trajetória ascendente de Dilma Rousseff.
O quadro demonstra também que ambas as candidaturas encontraram seu ponto de resistência.
O quadro permite a conclusão de que não há favoritos certos. Que persiste o empate entre os dois candidatos.
Que ambos candidatos terão que disputar para valer os votos dos indecisos na reta final da campanha.
O otimismo beato e ingênuo dos petistas baseia-se na entrada de Lula na fase aguda da campanha. Com Lula "tudo irá às mil maravilhas".

Voltaire e Mazzaropi

Fazendo uma analogia com no romance "Candido" de Voltaire, a campanha de Dilma Rousseff terá que transmitir o otimismo injustificável do filósofo Pangloss (Lula).
De que estamos "nos melhores dos mundos" persuadindo os eleitores indecisos de que apesar de todos os horrores, infortúnios e desventuras que assolam o povo brasileiro será "Tout est pour le mieux dans le meilleur des mondes possibles" ("É tudo para o melhor no melhor dos mundos possíveis").
Já para José Serra a analogia é com o filme Candinho (1953) de Amácio Mazzaropi, uma adaptação livre do romance de Voltaire.
José Serra no papel do humilde caipira Candinho terá que confrontar o otimismo do mestre Pancrácio (interpretado por Adoniran Barbosa) convencendo os indecisos de que o "Brasil pode mais", mas que ainda é preciso "carpir o milharal" - "Il faut cultiver notre jardin" ("É necessário cultivar o nosso jardim").



Napoleão e Adoniran

Insisto aqui que não tem nada decidido e que ainda existem muitos "Ses" a serem resolvidos nos próximas semanas.
A história das campanhas políticas no Brasil é rica de exemplos de que "merdas... acontecem!"
Para os petistas mais otimistas lembro aqui alguns ensinamentos de Napoleão que sempre começava seu planejamento a partir do pior cenário possível.
Para Napoleão existiam apenas duas espécies de planos de batalha, os bons e os maus:

"Os bons, falham quase sempre, devido a circunstâncias imprevistas que fazem, muitas vezes, que os maus sejam bem sucedidos".

"A guerra é cheia de surpresas. Não há homem mais assustadiço do que eu quando estou planejando uma campanha. Exagero propositalmente todos os perigos e todas as calamidades que as circunstâncias tornam possíveis".

Para os tucanos mais otimistas lembro que ainda é preciso fazer os eleitores indecisos, quando pensarem em Lula, cantarolarem os versos de "Armísticio" do inesquecível Adoniran Barbosa (que amanhã completaria 100 anos):
"Tem um ditado
Não sei se é inglês ou português
Só sei que o ditado diz
Quem faz uma, faz duas, faz três
Você fez uma, você fez duas
Mas três não vou deixar você fazer
Agora vem você pedindo acordo
Agora vem você pedindo armistício
Perdi a confiança em você
Pois você é igual a ovelha
Que perde o pêlo mas não perde o vício"

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