segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A MARCHA DA INSENSATEZ



Mohamed Bouazizi, era um jovem tunisiano de 27 anos de idade, nascido na cidade de Ben Aros e licenciado em informática.

Desempregado, vendia frutas e legumes numa banca de rua, a fim de contribuir para a subsistência de sua família.

As autoridades da cidade depois de tentar por diversas vezes extorquir dinheiro de Bouazizi confiscaram seu carrinho de frutas, alegando ser ilegal a venda ambulante na Tunísia.

Bouazizi foi humilhado publicamente quando uma funcionária municipal lhe deu um tapa no rosto e cuspiu nele, confiscando sua balança e jogando fora suas frutas. O fato de ela ser uma mulher, tornou a humilhação ainda maior.

Bouazizi, foi à sede do governo regional para tentar defender seu caso com o governador, pois tinha poucas opções para ganhar a vida.

Após receber um não ao seu pedido, desesperado, sem perspectivas de futuro, em protesto, imolou-se em frente à Prefeitura.

Bouazizi deixou uma mensagem para sua mãe no Facebook pedindo perdão por ter perdido a esperança em tudo.

"Estou viajando mãe. Perdoe-me. Reprovação e culpa não vão ser úteis. Estou perdido e está fora das minhas mãos. Perdoe-me se não fiz como você disse e desobedeci suas ordens. Culpe a era em que vivemos, não me culpe. Agora vou e não vou voltar. Repare que eu não chorei e não caíram lágrimas de meus olhos. Não há mais espaço para reprovações ou culpa nessa época de traição na terra do povo. Não estou me sentindo normal e nem no meu estado certo. Estou viajando e peço a quem conduz a viagem esquecer. - Mohamed Bouazizi



"Se os homens pudessem aprender da história, que lições ela poderia nos ensinar? Mas a paixão cega nossos olhos, e a luz que a experiência nos dá é a de uma lanterna na popa, que ilumina, apenas, as ondas que deixamos para trás" - Samuel Taylor Coleridge

Barbara Tuchman no epílogo de sua A Marcha da Insensatez (1984) comenta que a imagem de Coleridge é bela mas enganadora pois a luz que ilumina as ondas que passaram poderia nos ajudar a inferir as ondas que vem à frente.

Já Roberto Campos, na introdução de suas memórias, A Lanterna na Popa (1994) comenta a citação do poeta Coleridge como: "auto-indulgente e lastimou "por não ter inteligência e profundidade para erguer um farol que lançasse um facho de luz para as futuras gerações". Para os marinheiros, todavia, "a lanterna na popa não ilumina só as águas à popa; orienta os barcos que a seguem"!

Ambos os livros deveriam ser lidos e relidos, por todos os brasileiros que se interessam pelos caminhos da sociedade brasileira e procuram explicações para a insensata adoção, por nossos governantes, de políticas contrárias aos seus próprios interesses e do Brasil.

Ambos livros justificam a tese de que a causa fundamental, da insensatez e do desatino de nossos governantes é a covardia moral, a venalidade, a impotência da razão ante os apelos da cobiça, da ambição egoísta pelo poder "a mais flagrante de todas as paixões" (Tácito).

Como explicar, portanto, a insensatez das pesquisas que dão a entender que o povo brasileiro está feliz? Que tudo vai bem?

Estamos entre as 10 maiores economias do mundo, mas ocupamos a 75ª posição no ranking do índice de desenvolvimento humano (IDH); a 56ª posição do índice de competitividade global no ranking do Fórum Econômico Mundial; o 114º colocado (entre 126 países) em desigualdade de renda; o 9º colocado no ranking dos piores países com pior saneamento básico (perderemos de países como Nigéria, Sudão e Nepal); o 53º no ranking da educação, atrás do Chile, Uruguai, México e Colômbia segundo a OCDE.

Como explicar a passividade frente à trágica perda de vidas humanas, à sucessão de escândalos, da mais descarada corrupção, da impunidade de um judiciário inoperante, da vergonha da falta de infra-estrutura nos transportes, do aumento da violência, de um sistema de saúde que mata ao invés de salvar vidas!

Como explicar que temos um congresso (que não legisla) e é o 2º mais caro do mundo (só perdemos para os Estados Unidos).

Como explicar os 22,000 cargos de confiança que só servem de moeda de troca, barganha de poder e mais corrupção!

Como explicar que um partido como o PT, irreconhecível em face do que disse que seria em sua fundação, esteja abraçado solidariamente ao que existe de mais emblemático, reacionário e arcaico da política brasileira.

A Reforma Fundamental

Nossa marcha da insensatez vem dos anos 30 e da instituição do voto proporcional este sim o principal responsável pela crônica auto-hipnose, pelo cinismo, pela perda de confiança e distanciamento dos cidadãos brasileiros da política e de seus governantes.

O voto proporcional nos levou à ruptura e aos militares. O voto proporcional e todos os casuísmos da transição lenta e gradual e segura nos trouxe de volta à democracia inútil!

O fato é que da ditadura fez-se a democracia! Sem uma reforma eleitoral radical hoje temos a ditadura das oligarquias: a vanguarda do retrocesso!

O sistema político brasileiro é uma farsa de democracia! Trocamos de uniforme! Do militar, pelo civil conservador da oligarquia dominante!

A liturgia do voto inútil a cada 2 anos não é avanço nem democracia! É o retrocesso que avança recuando a cada 2 anos!

Temos uma oposição e situação conservadoras, que buscam exclusivamente manter o "status quo", sem redistribuição do poder político. Democracia é o direito à igualdade de direitos, bens e oportunidades perante a lei!

Só uma reforma eleitoral profunda pode nos livrar de nossa marcha da insensatez!

Há 25 anos discutimos o tema da reforma política e o máximo que conseguimos foi o casuísmo da implantação da reeleição em 1997. Outra demanda, a da fidelidade partidária, foi instituída pelo TSE!

A cláusula de barreira, que limita o número de partidos foi declarada inconstitucional! Existem 31 pedidos de inscrição de legendas no TSE o que poderia elevar de 27 para 58 o número de partidos em 2011!

E a lei da ficha limpa que estipulava que políticos condenados em primeira instância não poderiam concorrer as eleições enquanto não fossem absolvidos? Mais casuísmo!

"A política não segue um desenvolvimento linear: é feita de rupturas que parecem acidentes para a inteligência organizadora do real!" (Rémond)

Faço minhas as palavras de Mohamed Bouazizi à sua mãe:

"Não há mais espaço para reprovações ou culpa nessa época de traição na terra do povo"

É hora de ruptura! É hora do voto distrital!

Assine o abaixo-assinado "Eu Voto Distrital" pelo Voto Distrital e divulgue para seus contatos. Vamos juntos fazer democracia!

http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N5962

5 comentários:

  1. Tenho reunião agora à noite preciso estudar, mas quero deixar meu recado.

    O problema da filiação partidária.

    Diante do descalabro, acho que os partidos deveriam ser direcionados aos moldes de uma Empresa.

    Se o produto é bom, o respeito ao consumidor prevalece temos eleitos, se não a incompetência os extingue.

    Depois volto para abordar seus pontos de vista no texto. Já vi que é bom. Inté.

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  2. Não vamos perder as esperanças como esse rapaz perdeu...Vamos achar um meio de colocar essa gente suja no lugar deles...
    Um grande abraço

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  3. Paulo Gilberto Morais31 de janeiro de 2011 às 12:34

    Muitos Mohamed Bouazizi ainda surgirão, infelizmente, e, aqui no Brasil, eles - já faz tempo - podem ser contados aos milhares/ano. São anônimos que, por motivos semelhantes, resolvem fazer valer a máxima segundo a qual para certas circunstâncias a morte pode ser uma doce saída.

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  4. Hoche José Pulcherio31 de janeiro de 2011 às 14:42

    Estupenda obra. Enquanto lia, da minha janela via um bando de adolescentes cheirando cola na praia entre a Teixeira e a Farme, e a guarda municipal passou tres vezes por aqui, viu e fingiu que não era com ela... Preferiram passear nas suas patinetes SegWay. Essas crianças são apenas o sintoma dos males para os quais nossos "políticos" não têm tempo e a permanencia delas nas ruas reflete a prioridade do uso dos fundos extorquidos do nosso trabalho. Sem um voto que gere "accountability" no eleito nunca vamos sair desse rame rame. Parabéns por levantar esse asssunto de uma forma tão brilhante.

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